Uma das histórias mais curiosas — e pouco comentadas — dos bastidores de Hollywood envolve ninguém menos que John Wayne e um dos filmes mais conturbados de sua carreira: Rota Sangrenta. A produção, baseada no romance de Albert Sidney Fleischman, trazia a saga de Tom Wilder, capitão de um navio mercante que passa dois anos preso na China, escapa e acaba encarregado de transportar quase 200 habitantes de uma pequena cidade até Hong Kong em busca de liberdade.
O que poucos sabem é que, antes de o filme chegar às telas, Wayne foi alvo de uma situação insólita: pressão e até chantagem para demitir o protagonista original — e, em seguida, assumir ele mesmo o papel.
O plano original: Mitchum no comando, Wayne nos bastidores
No início da pré-produção, Rota Sangrenta foi planejado para ter Robert Mitchum como estrela principal, enquanto John Wayne ficaria apenas como produtor. Fleischman, autor do livro e responsável pelo roteiro, também apoiava a escolha, garantindo fidelidade ao espírito do romance.
Mas o clima nos bastidores começou a se deteriorar quando o diretor William A. Wellman passou a se incomodar com o comportamento de Mitchum. Conhecido por sua postura rebelde e pouco tolerante às formalidades de estúdio, o ator teria desagradado Wellman desde o início das filmagens.
A pressão aumenta — e Wayne vira o alvo
Diante do impasse, uma movimentação interna começou a surgir: produtores e membros da equipe passaram a pressionar John Wayne para demitir Mitchum, alegando que o comportamento do ator estava prejudicando a produção. O objetivo era claro — tirar o astro rebelde da liderança do elenco.
Mas a situação foi além da simples sugestão. De acordo com relatos da época, a pressão se transformou em chantagem tácita: ou Wayne removia Mitchum, ou outras decisões importantes seriam sabotadas. A insatisfação com Mitchum era tanta que, em determinado momento, surgiu até a proposta de que o próprio Wayne assumisse o papel principal, algo que não fazia parte de seus planos.
Adeus, Mitchum — e nova direção
A tensão escalou a ponto de Mitchum simplesmente deixar o projeto. Sem seu protagonista original e com a produção ameaçada, John Wayne não teve escolha a não ser assumir o papel de Tom Wilder. Foi uma solução emergencial, mas que acabou determinando todo o rumo da obra.
Wayne, já uma lenda do faroeste e do cinema de aventura, imprimiu ao personagem uma energia mais rígida e autoritária, mudando o tom da história e dando ao filme a marca que os fãs conhecem hoje.
Um filme marcado por rupturas
Apesar do clima turbulento, Rota Sangrenta foi concluído e tornou-se mais uma peça emblemática na filmografia de John Wayne. No entanto, sua produção permanece como um registro das tensões, disputas de ego e interferências criativas que marcavam Hollywood no auge do sistema de estúdios.
O que começou como uma parceria entre Wayne e Mitchum acabou se transformando em um exemplo clássico de como bastidores conturbados podem moldar — e até redefinir — o destino de um filme.
Se quiser, posso estender a matéria com curiosidades, datas de produção, polêmicas ou comparar versões do roteiro original com o filme final.


